terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O que é uma cidade? (publicado em 28/03/2009)

Buscando um conceito superficial a esta indagação, o dicionário Aurélio nos fala que é um complexo demográfico formado por importante concentração populacional não agrícola e dada a caráter mercantil, industrial, financeiro e cultural. Vários teóricos, poetas e escritores também ofereceram de acordo suas sensibilidades, uma definição para a cidade. Mas uma idéia é geral: a partir da demarcação de um traçado, a história da humanidade tomou novos rumos, modificando a realidade do homem, realidade que hoje chamamos de civilização.
Onde este espaço construído tem significado muito maior do que o de um aglomerado urbano. Tornou-se, na verdade uma espécie de poder regulador da vida a partir do ser. “Ser ou não ser” para a cidade torna-se uma indagação constante dela mesma para com todos aqueles que decidiram ter esta característica de ser citadino e assumiram este lócus urbano formado de uma complexidade muitas vezes intangível para estes habitantes.
Sérgio Rouanet já perguntou se o homem habita a cidade ou a cidade é que habita os homens? Somos piripirienses? Ou Piripiri é toda sua gente? O que nós já fizemos ou pretendemos fazer por esta “menina centenária” que em 2010 irá completar seu mais charmoso aniversário? Até hoje já foi cantada por músicos, recitada por poetas, desenhada e moldada por artistas e também contada pela história. Construída, desconstruída, criticada por uns, inventada, louvada e amada por outros. Várias percepções e várias sensações. Ítalo Calvino nos diz que a cidade pode ser o que dela se vê ou o que dela se entende. O que eu vejo de Piripiri? O que você entende desta Piripiri? Esta resposta depende de que forma nós percebemos esta cidade que está muito alem de nossos olhos, na verdade presente em todos os nossos sentidos. Hoje vejo, ouço, cheiro, degusto e sinto nossa cidade. Você também a percebe assim?
Traduzindo estas percepções para as palavras, iremos a partir daqui, reunir e organizar estas sensações, enveredando os caminhos da compreensão desta dinâmica que hoje é a nossa Piripiri. Traçando seu processo evolutivo do passado até os dias atuais, para compreender o nosso processo de modernização. Não fincando nossas pesquisas somente a fatos ou datas históricas, mas percebendo principalmente as causas e conseqüências destes na sociedade e principalmente em sua cultura. Longe de querer estabelecer modelos ou regimes de verdade, simplesmente iremos contar, recontar, rememorar ou simplesmente “inventar” e “reinventar” a história de nossa cidade, outrora verdade absoluta, porém facilmente convertida em uma verdade questionável, devido a não exatidão da ciência histórica.
Em síntese iremos a partir da visão de uma história cultural proporcionar uma nova abordagem a este fenômeno urbano, além dessa cidade materializada em sua arquitetura e no formato de suas ruas, iremos inspirar a percepção da existência de várias cidades dentro desta mesma cidade atual. O ser humano deve sempre recorrer ao seu passado para poder compreender e justificar seu presente e a partir daí se projetar para o futuro. Não dá para saber para onde vamos, se não sabemos de onde viemos. A nova história requer um estudo muito além de fatos e datas que podem ser simplesmente transcritos ou decorados, hoje visto apenas como análises superficiais desses processos econômicos, sociais e políticos de um aglomerado. Existe muito mais para ser captado, percebido, contado e inventado. E essa será nossa missão a partir desta edição.
Até a próxima.


Marco Matos
Historiador
Markkomatos@hotmail.com